Summary
- Uma das decisões mais importantes que uma pessoa pode tomar — muito antes de adoecer ou morrer — é escolher seu representante legal para assistência médica. Não é apenas uma caixa de seleção em um formulário. É um reflexo dos seus valores, da sua voz, da
Como doula da morte, alguém que apoia pessoas durante o processo de morrer, caminhei ao lado de muitas pessoas durante seus últimos capítulos. Algumas mortes foram pacíficas, ancoradas à clareza e à intenção. Outras foram confusas — complicadas pelo silêncio, pela incompreensão ou pelo peso de decisões que ninguém estava preparado para tomar.
Uma das decisões mais críticas que uma pessoa pode tomar — muito antes de adoecer ou morrer — é escolher seu representante legal para cuidados de saúde. Por quê? Porque quando você não consegue mais falar por si mesmo, seu representante legal para cuidados de saúde se torna sua voz. Ele tem o poder de garantir que seus desejos sejam conhecidos, respeitados e seguidos. Se o mundo da medicina se tornar um labirinto de curvas urgentes e alarmes piscantes, seu representante legal é a pessoa que segura o mapa e guia calmamente o caminho para a saída escolhida. Ter alguém que possa advogar em seu nome não é apenas uma formalidade legal — é um ato de profundo cuidado.
Ao longo dos anos, meus clientes me ensinaram muito sobre o que torna um procurador a pessoa certa . Não apenas a escolha mais óbvia. Não apenas o parente mais próximo. Mas a pessoa que pode carregar a sua verdade quando ela mais importa.
Compartilho aqui algumas de suas histórias — com nomes e informações de identificação alterados para proteger sua privacidade. Como doulas da morte, a confidencialidade é sagrada. Somos responsáveis pelos pensamentos finais, medos e verdades de nossos clientes. Essa confiança constitui a base do nosso trabalho, e honrá-la significa levar suas histórias com reverência — e não com exposição.
Aqui estão quatro clientes que, de maneiras muito diferentes, me ajudaram a entender o quanto essa decisão pode moldar tudo o que vem a seguir.
Cliente Um: Loretta
Loretta era o tipo de mulher que conseguia entrar numa sala e fazer você se sentir como se tivesse recebido orações, mesmo que não acreditasse em nada. Ela era uma conselheira escolar aposentada, profundamente amada e muito clara sobre o que queria — e o que não queria — no fim da vida.
Ela escolheu a filha mais velha como sua representante legal para cuidar da saúde. "Ela é a forte", disse Loretta. "Ela não chora em público."
Mas quando chegou a hora, a filha se fechou. Não conseguia responder a perguntas. Deixou tudo para os médicos. "Mamãe não ia querer sofrer", sussurrou, mas não conseguiu expressar o que isso significava em termos reais.
Foi o filho mais novo, aquele cujo nome ela não mencionou nos documentos, que se lembrou dos desejos de Loretta. Foi ele quem trouxe o bloco de notas amarelo que ela guardava na gaveta da cozinha. "Deixe-a ir para casa", disse ele. "Ela sempre dizia que não queria morrer num hospital."
A história de Loretta me ensinou o seguinte: força não é estoicismo. O representante certo é alguém que consegue se manter firme quando as emoções afloram — que consegue expressar a sua verdade, não a deles.
Cliente Dois: Daniel
Daniel tinha câncer em estágio IV e uma mente de ferro. Ele lia tudo. Fazia perguntas em três idiomas. Queria saber todas as possibilidades e mais algumas.
"Não quero que ninguém tome decisões com base no medo", ele me disse. "Nem no deles. Nem no meu."
Daniel escolheu seu melhor amigo de infância, Reggie, como seu representante legal para cuidar da sua saúde — não seu parceiro, nem sua irmã. "Reggie é pragmático", disse ele. "Ele faz perguntas difíceis. Ele não tem medo da palavra 'morrer'."
E Daniel estava certo. Quando as coisas se complicaram — quando as opções de tratamento se tornaram improváveis e tiveram efeitos colaterais — Reggie ouviu. Ele tomou notas. Perguntava: "O que Daniel diria?" sempre que surgia uma nova decisão. Ele mantinha uma lista no celular com os desejos de Daniel, classificados por categoria: dor, respiração, visitas, música, intervenções.
A história de Daniel me ensinou o seguinte: o representante certo se prepara. Ele não adivinha. Ele não improvisa. Ele ouve muito antes de falar por você.
Cliente Três: Marlene
Marlene tinha sobrevivido a dois maridos e a três derrames. Quando a conheci, ela era cheia de risos e completamente sem filtros. "Quero morrer como as velhinhas dos filmes", disse ela. "De batom e jazz ao fundo."
Ela escolheu a sobrinha para ser sua representante porque, como ela disse, "ela é a única que não me trata como se eu fosse feita de vidro".
Acabou sendo a escolha perfeita. Sua sobrinha era prática, afetuosa e não tinha medo de desafiar os médicos e a mim. "Minha tia está cansada de qualquer coisa agressiva", disse ela durante uma conversa tensa no hospital. "Ela quer conforto, dignidade e Billie Holiday."
Marlene recebeu exatamente isso. Uma cama de hospital perto da janela. Brincos grandes. Discos tocando. Ela morreu com a sobrinha segurando sua mão, contando antigas fofocas de família.
A história de Marlene me ensinou o seguinte: escolha alguém que não tenha medo de defender a causa. Alguém que possa dizer: "Trata-se de honrar a maneira como eles queriam viver, do começo ao fim".
Cliente Quatro: Rashad
Rashad vivia com insuficiência cardíaca e uma vida plena e assumidamente plena. Escrevia poesia, fazia um café horrível e acreditava em segundas chances. Mas, quando chegou a hora de planejar a morte, ele se arrastava.
Por fim, ele escolheu o irmão mais velho como seu representante. "Ele é da família", Rashad deu de ombros. "Faz sentido."
Mas quando Rashad ficou sem reação, seu irmão entrou em pânico. Ele continuou perguntando: "E se ainda houver esperança?", mesmo Rashad tendo dito — repetidamente — que não queria máquinas. Nada de tubos. Nada de dor prolongada.
Foi o ex-namorado dele, Marcus, quem me ligou. "Ele me disse uma vez — depois de um show — que queria palavras, não bipes. Você acha que eu conseguiria ler para ele?"
Ele sentou-se ao lado de Rashad por horas, lendo Baldwin e Neruda. Sussurrando verdades. As máquinas estavam lá, sim, mas Marcus também — ancorando o ambiente no amor e na memória.
A história de Rashad me ensinou o seguinte: proximidade não é sinônimo de compreensão. Escolha alguém que te veja. Não apenas quem você é, mas quem você está tentando se tornar — mesmo quando estiver partindo.
Então o que isso significa para você?
Isso significa que escolher um representante legal para cuidados de saúde não é apenas uma opção em um formulário. É um reflexo dos seus valores, da sua voz, da sua visão de dignidade.
Escolha alguém que:
- Escuta sem inserir seus próprios medos.
- Faz perguntas e toma notas.
- Consegue lidar com conversas difíceis.
- Sabe quando falar — e quando deixar passar.
- Respeita seus desejos mesmo quando eles não coincidem com os seus.
E acima de tudo, alguém que te veja .
Esse é o tipo de amor que todos nós merecemos no final.
Darnell Lamont Walker é uma doula da morte, autora e roteirista de programas infantis de televisão indicado ao Emmy.
Este artigo também foi publicado no blog The Conversation Project .
Foto de Kampus Production no Pexels.
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